4º Dia – Regresso a casa, por Eduardo Faria
A previsão meteorológica para o dia de Carnaval apontava para vento fraco, ou mesmo muito fraco durante todo o dia. Ou seja, a viagem de regresso seria feita com recurso ao “vento de porão”. Em contrapartida, o dia apresentava-se aprazível, céu azul, com temperaturas primaveris e mar chão.
Enfim, não iríamos ter vento, também não se pode ter tudo, mas o regresso seria feito sob um céu esplendoroso e mar de almirante.
Depois de tomado o pequeno-almoço, foram divididas as tarefas: (clique Leia mais ... para ver o artigo completo) enquanto a Paula e o Eduardo Faria faziam compras de última hora no mini – mercado, espaçoso, diversificado e imaculadamente limpo, e tratavam também do check out na recepção, onde a Cátia, jovem e simpática recepcionista já estava em alvoroço porque ainda não tínhamos devolvido os cartões de acesso que nos tinham sido fornecidos sem pagamento de caução, ao arrepio do que aconteceu com os demais participantes no cruzeiro, o Miguel Oliveira e o Joaquim Achando encaminhavam o WILMA para o cais da recepção para reabastecimento de combustível.
Cerca das 10H00 saímos da marina sem pinga de vento e com o mar quase estanhado. À nossa frente o BBM, do Bernardino Moreira, e o TRANQUILIDADE que, com um motor bem mais potente, rapidamente se afastou. No horizonte viam-se 8 embarcações que, com a vela grande em cima, rumavam igualmente ao rio Tejo. Pelas comunicações via rádio apercebemo-nos que entre elas se contavam o TRINITY, do Santana, que animava a frota com as suas frases cheias de espírito, e o NORTON.
A 7 nós rapidamente ultrapassámos o estreito e pouco profundo canal de acesso que liga o estuário do Sado a Sesimbra. Cerca das 13H00 passámos o Cabo Espichel. Pouco antes tínhamos rejubilado com um súbito aumento do vento. Debalde. O aumento da força do vento pouco antes do Cabo Espichel foi sol de pouca dura. Nem deu para encher as velas.
Eis senão que, de repente, o motor do WILMA começa a engasgar-se. Mas que se passa? Ainda há pouco tínhamos reabastecido. Não podia ser falta de combustível. Rapidamente nos apercebemos que o “engasganço do motor” tinha resultado do facto do combustível se ter esgotado no depósito de bombordo, uma vez que só este estava depósito estava seleccionado. Durante a manhã o Miguel e o Joaquim tinham estado a fazer experiências com o selector de combustível para verificar o sistema de alimentação.
O ambiente a bordo era de perfeita descontracção e a tripulação do WILMA aproveitava o tempo quer para conseguir um bom bronzeado, quer para colocar a leitura em dia. O serviço de catering a bordo estava ao nível dos seus melhores dias: as sandes preparadas pela Paula Oliveira tinham um ar muito biológico e estavam não só muito saborosas como tinham um aspecto farto. Desapareceram muito rapidamente acompanhadas de um vinho tinto, reserva 2002, muito distinto, vindo directamente das cada vez mais afamadas caves do WILMA.
Entretanto, o NORTON, que seguia umas 5 milhas à nossa frente, ia distribuindo entre os veleiros que se encontravam nas suas proximidades uma feijoada que, pelo que nos fomos apercebendo pelos comentários via rádio, nomeadamente por parte do Santana, estava divinal e de chorar por mais.
A viagem ia decorrendo sem história. Cerca das 15H15 cruzámos o farol do Bugio por bombordo com o mar completamente estanhado e sem uma brisa, com a temperatura do ar a rondar os 20º C. Ao longe podíamos ver o passeio marítimo pejado de gente entre a marina de Oeiras e a praia de Paço de Arcos. Os foliões aproveitavam o Carnaval em pleno…
Quinze minutos depois dávamos entrada na marina onde já se encontrava estacionado há cerca de 1 hora o JAD. No tombadilho o Philippe destacava-se com o cigarro na boca a desfrutar do sol quente da tarde. Juntamente com o António ajudaram-nos a lançar os cabos que permitiram atracar o WILMA sem sobressaltos, manobra que foi atentamente observada pelos milhares de mirones que se espraiavam pela marina nesta magnífica tarde de Carnaval.
Depois de posta a conversa em dia o WILMA foi arrumado, limpo e finalmente lavado, pronto para que outros pudessem desfrutar.
Mas um dia destes não podia terminar sem um episódio digno de registo. Quando todos se preparavam para abandonar o WILMA e rumar a suas casas, os óculos da Paula Oliveira, encarrapitados na cabeça, caíram à água e afogaram-se…
Meus Deus, que tragédia. O Miguel, marido extremoso e qual nadador – salvador de reconhecidos méritos, ainda tentou num golpe obstar à tragédia que se avizinhava, mas os ditos cujos já iam lá em baixo, bem sob a quilha da proa do WILMA. Tristeza infinita. Uns óculos escuros RayBan ainda por cima com elevado valor estimativo para o casal Oliveira, deu para perceber, jaziam no fundo da marina …
Que fazer? O Miguel Oliveira preparava-se para mergulhar nas águas, mas os 13º C de temperatura da água desencorajam qualquer um, por mais destemido que fosse … Parecia que o destino dos óculos estava selado…
Mas inconformado com semelhante destino depois de tantos de bons serviços à Paula Oliveira, o Eduardo Faria lembrou-se de pedir socorro junto da recepção da marina, recordando-se que um dos marinheiros que aí presta serviço costuma fazer caça submarina. Mas, azar dos Távoras, o dito marinheiro estava de folga …
Mas eis que o Jorge da recepção se recorda que tinha acabado de entrar nos balneários para tomar banho um mergulhador de caça submarina. Dito e feito. Entrámos nos balneários e o dito mergulhador ainda tinha o fato vestido. Será que este amigo se importaria de fazer de bom samaritano? Depois de alguma insistência lá acedeu a ir mergulhar sob a quilha da proa do WILMA. Com 3 golfadas de ar, percebia-se que o nosso amigo mergulhador sabia da poda, lá desceu ao fundo da marina e recuperou os óculos para grande gáudio da Paula e do Miguel Oliveira que já viam a vida a andar para trás…
Tinha terminado em beleza o Cruzeiro de carnaval. Para o ano há mais.