Cruzeiro a Tróia com tripulação reduzidaDia 4 de Junho de 2010 - ida
A largada de Oeiras, por volta das 10:30, ocorreu sem praticamente vento nem ondas, pelo que rumamos ao cabo Espichel a motor. Só pelas 12:30 é que o anemómetro começa a registar ventos da ordem dos 10 nós, provenientes de NW, altura em que navegamos com vento de través.
Meia hora depois a velocidade do vento mais do que duplicou, atingindo força 5, e obrigando-nos a colocar o primeiro rizo na vela grande. Com o aproximar do cabo, o vento continuou a aumentar e optamos por rizar também a genoa. Estabilizada a embarcação e com ondulação da ordem de 1 a 1,5m na alheta, lá seguíamos a bom ritmo, “surfando” as ondas.
Pelas 14:00 horas estávamos a dobrar o cabo tranquilamente e pelas 15:30 a tirar os rizos, pois o vento passara a moderado. Uma hora depois o vento caiu totalmente. Arreamos as velas e continuamos a motor até à marina de Tróia, onde chegamos por volta das 18:00. (clique Leia mais ... para ver o artigo completo)
Assim foi o primeiro dia, essencialmente pautado pela sensação de serenidade que o mar transmite nestas condições e pelo desfrute da paisagem, proporcionando também uma boa prática de navegação costeira e em águas restritas.Dia 5 de Junho de 2010 - regresso
Partimos de regresso a Oeiras pelas 09:00. O vento no Estuário do Sado apresentava-se moderado, mas uma hora depois caiu totalmente, obrigando a fazer a motor o percurso entre a saída do canal de Setúbal e Sesimbra.
Pelas 11:00, já com Sesimbra pelo través, o vento começa novamente a fazer-se sentir, atingindo força 4. Içamos velas e seguimos então á bolina rumo ao cabo Espichel.
A intensidade do vento, bem como a altura das ondas, foram aumentando gradualmente à medida que nos aproximávamos e que dobrávamos do cabo, tendo atingido por volta das 12:00, cerca de 20 nós e 1,5 metros de altura, respectivamente, condições que até aqui nos tinham proporcionado uma boa progressão e simultaneamente uma navegação tranquila.
Como estávamos à espera que a intensidade do vento diminuísse depois da passagem o cabo, à semelhança do que acontecera no dia anterior, optamos apenas por rizar a genoa, mas aconteceu precisamente o contrário. Passado meia hora, o vento atingiu a força 6, e as ondas, combinadas com as vagas, aparentavam cerca de 2 metros de altura. Aleatoriamente, varriam totalmente o Wilma, entrando mesmo pela janela do cockpit. A partir desta altura, sucederam-se os banhos inesperados á tripulação bem como à embarcação, tendo entrado água no poço, na cabine de popa e na cabine central.
Apesar de seguirmos a bom ritmo, a embarcação ia muito adornada, navegando com água pela borda, situação que recomendava rizar a vela grande, mas como as condições de mar não eram nada propicias, optamos por enrolar a genoa e seguir a motor, com mar na amura para reduzir o balanço da embarcação. Mas a força do vento continuou a aumentar, e o receio de que, com o aproximar do meio da tarde, altura em que já se previa que a intensidade do vento subisse, obrigou a rizar também a vela grande, operação que decorreu já em condições de segurança pouco recomendadas, tendo-se mesmo recorrido ao uso de arnês para prevenir uma eventual queda de homem ao mar.
E depois foi "aguentar", até que pelas 16:00, já na zona de sombra do cabo da Roca, a intensidade do vento diminui, passando a “fresco” e a vaga reduziu para 1,5m de altura, condições que nos permitiram então almoçar uma refeição preparada previamente. Hora e meia depois, já alimentados e quase secos, mas bastante cansados, atracamos no porto de recreio de Oeiras.
E assim, a sensação de serenidade do primeiro dia deu lugar a uma luta desigual com a natureza, só vencida pela confiança depositada num Amel 41’’ equipado com um novo Volvo Penta e pela determinação da tripulação em chegar.
Reflexões finais e ensinamentos para as próximas viagens: (mais do que descrever a viagem importa reflectir sobre os erros cometidos, todos eles básicos e amplamente divulgados na bibliografia da especialidade)
- Não rizamos antecipadamente a vela grande;
- Não nos equipamos integralmente com roupa e calçado impermeável;
- Não verificamos se todas as escotilhas estavam bem fechadas antes de zarparmos nem fechamos a cabine de popa mesmo depois de as ondas começarem a galgar a embarcação;
- Não nos alimentamos convenientemente antes da passagem pelo cabo.