1ª Expediçã​o APM10-SPEA: a perspectiva "cruzeirista"








1ª Expedição APM10/Spea. 1ªParte de 18 a 25 de Março de 2011.

Caros Associados e Amigos

A APM10 concluiu com assinalável êxito a primeira semana da expedição. Por todos os motivos: porque levámos o Wilma ao Norte ainda antes de começar a Primavera; porque navegámos nas duas noites do maior luar de há 18 anos; porque dormimos confortavelmente ; porque comemos soberbamente ; porque acertámos na semana meteorológica; porque fizemos velejadas extraordinárias; porque aportámos a locais estreia para a APM10; porque mantivemos uma óptima camaradagem a bordo; porque vimos muitas aves e muitos golfinhos; porque chegámos cheios de saudades.

Sexta-feira, 18/03: Largámos de Oeiras pelas 15h30 rumo ao Cabo Raso com vento pelo través e algum motor. Esperáva-nos um vento fresco de Norte que obrigou a reduzir pano e enrolar a genôa .Até à Figueira da Foz, aonde chegámos por volta das 10h00 de Sábado, mantivemos o andamento com auxílio motorizado para contrariar a ondulação desencontrada mas com predominância Norte. Um nunca visto luar iluminava tudo em nosso redor. Porque estávamos perto do equinócio a Lua era já visível ao pôr do Sol. Para o fim da viagem, agora com mar mais calmo e temperatura agradável, à nossa chegada, um ligeiro nevoeiro encobria a barra mas não nos dificultou a aterragem. Depois de se tratarem das questões oficiais de chegada fomos tomar banho e almoçar à "Caçarola Um". Magnifico o Polvo à Lagareiro..

Sábado, 19/03: Para cumprir o horário, à hora da práia-mar, 15h30, zarpámos rumo a Viana do Castelo. Mais uma noite de luar extraordinário... mar algo desencontrado até meio da viagem... vento de Norte fraco...noite calma... e chegada a Viana do Castelo pelas 10h00 de Domingo. Almoço na casa da Linda, restaurante a recomendar...visita ao Gil Eanes, antigo navio hospital da frota pesqueira nacional, agora transformado em museu e hostel... recepção aos 3 novos tripulantes... despedida do MM que regressou a Lisboa.

Segunda-feira, 21/03: Pelas 6h00 o WILMA zarpa de Viana do Castelo com rumo a um WP a 4 NM a Oeste de Caminha. Para lá chegar fizemos uma bela velejada em bolina cerrada com vento fresco. Depois começámos a descida com rumos em zig-zag entre as 4 e as 7 milhas da costa até á Povoa de Varzim... sempre em boas velejadas ora à bolina ora a um largo até o vento permitir. O almoço a bordo em hora de calmaria, sempre assinalado ( com o sino), e confeccionado com muito esmero pelo AA foi degostado ao largo, em dia de equinócio, e soube muito bem. Tinha chegado a Primavera....

Terça-feira, 22/03 : Sempre a cumprir horário, às 6 , o WILMA retoma a sua derrota , agora rumo a Aveiro. Esta era a primeira vez que a APM10 entraria a barra de Aveiro... Julgo que o Wilma já lá teria estado em anos anteriores pela mão do seu antigo armador o Engº Guimarães Lobato. Há muito tempo que imaginava o Wilma a entrar esta barra. Tinha visto por terra ,alguns anos atrás, as grandes massas de água a moverem-se, junto ao farol da barra, associadas a uma ondulação acentuada, o que permitia concluir que não seria a toda a hora que se entraria com facilidade. Esta observação ocasional num dia de passeio familiar influenciou o planeamento da viagem num particular que foi chegar a Aveiro com a enchente e à volta de uma hora antes da praia-mar. Efectivamente fizemos a entrada da barra muito suavemente dado que não havia ondulação e com o Wilma a quase 10 nós de SOG. Tal era a corrente no canal principal da Ria. Passámos por muitas embarcações pesqueiras atracadas aos diversos cais. Uma delas, o StaMariaManuela, lugre de 4 mastros utilizado na antiga frota bacalhoeira e agora recuperado tal com o Creôla. A seu lado o Polar , navio da mesma classe, a aguardar o restauro. Na marina de AVELA esperáva-nos o Vilela de Matos do “Dominó”, o César Ferreira do “Wacapou” e o Sr Carvalho que receberam o Wilma e a sua tripulação com todas as honras. O resto da tarde serviu para fazer o abastecimento do Wilma dado que a partir daqui aumentávamos a tripulação ( passámos a ser ao todo 7 com a chegada da Ana e do Vilela) e a cozinha tinha de funcionar sem constrangimentos...À noite fomos todos jantar ao Bacalhau do Baptista...para alguns o melhor bacalhau de Aveiro. Foi de tal forma bem servido que ainda deu para parte do nosso almoço no dia seguinte.

Quarta-feira, 23/03: Depois de uma noite bem dormida, acordámos ao som do despertador que nos impunha mais uma viagem, desta vez até ao porto da Figueira da Foz. A saída de AVELA, ainda o Sol não tinha nascido, fez deslizar o WILMA para a barra ao sabor da corrente de vazante que já se fazia sentir logo após o estofo da praia-mar da manhã. Tudo muito suave, uma ligeira brisa matinal de Leste ajudava a saída da barra com as velas, a grande e a mezena, já em funcionamento. A meteorologia dava previsões de que haveria uma depressão junto ao Cabo Mondego para a tarde deste dia. Efectivamente navegámos com o céu ligeiramente encoberto mas nunca apanhámos chuva até ao destino. Nem refregas muito intensas que se previam. Avistávamos sempre à nossa frente o céu mais carregado e analisávamos pelo radar os chuviscos a algumas milhas em redor. Por sorte navegámos sempre sem chuva. O almoço contou com várias especialidades entre as quais o "Bacalhau à Baptista" que tinha vindo do jantar de ontem e o "Bacalhau à AA" que, como não sabíamos que íamos jantar em Aveiro tal ementa, já tinha sido planeado pelo nosso "cozinheiro". E foi um belíssimo almoço em que bebemos um tinto, algo complexo, da zona da Serra de Montejunto que acompanhou muito bem, alíás, que nos tem vindo a acompanhar muito bem. Para os mais inebriados com estes assuntos enológicos trata-se de um "Francisco 2010". E depois de se contarem todas as aves que por ali andavam chegámos à Figueira da Foz aonde fomos muito bem recebidos por um náutico da GNR que nos fez as honras à nossa chegada. Depois dos duches e de um passeio à cidade , nesta noite, ninguém jantou porque estavam todos a fazer a digestão do bacalhau do almoço.

Quinta-feira, 24/03: ...e , não falha, às 6 é hora de ir andando. Peniche será agora o nosso destino. Navegámos á vela e a motor quando o vento fraquejava ou íamos em rumos de contra o vento. Havíamos de cumprir um percurso em zig-zag com uma velocidade de 6 knot. Neste dia reservámos um período de 15 minutos para fazer uma demonstração de pesca à linha, ao fundo. Como estávamos a 7 milhas da costa a profundidade era superior a 100 metros. Estávamos quase em cima do Canhão da Nazaré. Assim, a demonstração deixou muito a desejar dado que só tínhamos para aí uns 50 metros de fio de pesca no carreto. Com a chumbada a boiar a meio do fundo não augurávamos grande sucesso, mas, vá lá, quando já nada se esperava e quando se recolhia o fio, demos , inesperadamente, com uma cavala no enzol. Momento muito aplaudido com a chegada da cavala que nos quis vir cumprimentar. Dada a sua simpatia e a sorte que teve do pessoal estar já com uma grande dose de bacalhau devolvemo-la ao mar para ter outro destino..... E, avistámos as Berlengas. Linda de se ver, a Berlenga Grande, apresentava-se com tons de uma vegetação em roxo... a anunciar a Páscoa que se aproxima. Depois a entrada em Peniche e a seguir uma caldeirada de peixe num dos restaurantes da cidade. Já se notam algumas obras de recuperação dos antigos canais da cidade que, em conjunto com o projecto da nova marina, deverá colocar Peniche ainda mais apetecível para a náutica de recreio.
Sexta-feira, 25/03:.. 6 horas, ...novamente o despertador... não lhe faltou a bateria . Agora era a última perna até Oeiras. E lá fomos descendo, com aves e golfinhos à nossa volta...todos bem contados...Encantados. Ao largo a 7 milhas a Oeste do Cabo Raso cruzou pela nossa prôa um carregueiro rumo a Cascais. Nós rumámos à Bóia de Espera e, como mandam as boas regras, fizemo-nos, depois, à barra a 047º. Sem vento, com mar chão e temperatura muito agradável, o Bugio é já ali, chegámos à Marina de Oeiras à hora.
Por último, os agradecimentos a esta magnífica Tripulação, à APM10 , à Spea e à Meteorologia, que me proporcionaram um dos melhores cruzeiros que já fiz. EG.