No Cruzeiro à Macaronésia, houve momentos em que o Piloto e o Leme se desentenderam. O Leme achou que o trabalho estava a ser demasiado e deixou o Piloto a navegar sozinho. Resultado: momentos de aflição e interrupção do Cruzeiro até se fazerem as pazes, 1 mês depois. (clique Leia mais ... para ver o artigo completo)
Texto de Alberto A. A., Outubro de 2008:
1º Episódio: Avaria no motor do Piloto Automático
O Wilma zarpou da Marina de Porto Calero em Lanzarote por volta das 10H00 com vento fraco e ondulação acentuada. O nosso destino era directo a Portimão ou passando por Porto Santo, dependendo das condições de tempo que fôssemos encontrar mais à frente. Na madrugada do dia seguinte, por volta das 02H00 e já depois de termos passado a Ilha Graciosa, que é a que se situa mais a leste do arquipélago das Canárias, o nosso piloto automático não aguentou o esforço para corrigir tantos obstáculos ao avanço, tais como o vento e as vagas que nos alcançavam pela proa e passou-se literalmente dos carretos. De imediato a “equipa de manutenção” permanente tomou conta da ocorrência para constatar que a avaria não tinha solução imediata. O consenso de regressar a Lanzarote foi geral, estávamos a cerca de 120 milhas, tendo em conta o cansaço e desapontamento eram unânimes e estava expresso nos semblantes da tripulação. Já de regresso, fizemos turnos de uma hora ao leme do Wilma, e todos concordaram numa escala técnica na Graciosa onde dormimos o sono reparador que todos ansiavam, tão agradável que até ficámos lá mais um dia.
2º Episódio - Avaria num dos cabos de transmissão do comando do Leme
Partimos da Graciosa manhã cedo, dia lindo, quando alterámos o rumo para Lanzarote (Oeste) tínhamos tudo a favor. O vento de popa e vagalhões pela alheta de estibordo, eh eh eh! Aquilo é que foi surfar mas, com a entrada de uma vaga maior o Wilma começou a descer em diagonal, ameaçando atravessar-se à onda e o timoneiro ao contrariar na roda de leme essa tendência...e “ trás” ouviu-se um grande estalo para espanto e susto geral mas, tudo ficou bem após alguns ajustes no rumo e nas velas. De maneira que continuámos a viagem já sem tanto entusiasmo mas, a segurança está sempre em primeiro. No dia seguinte, depois de entregar a responsabilidade da reparação do piloto automático a um técnico local para substituir as rodas dentadas danificadas, regressámos todos de avião a Lisboa excepto o Rui Rodrigues que apanhou boleia do veleiro “ Bijou”.
3º Episódio: Reparação do Piloto Automático e do cabo transmissão do Leme

4º Episódio: Avaria nos cabos do Leme
Com o barco já controlado pelo Eduardo e pelo Rui, fui investigar o sucedido, e constatei que as braçadeiras que tínhamos usado para reparar o cabo de transmissão do comando do leme, tinham cedido ao esforço soltando-se do seu suporte.
Estava eu com um alicate de pressão (grifo) a endireitar as chapas de inox que tínhamos construído para fixar o cabo, que ficaram tortas com o rompimento das braçadeiras, enquanto pensava onde e como é que iria arranjar outras mais fortes que as que se tinham partido quando, “se acendeu a tal luz interior “e perguntei-me, ”porque é que eu não aperto o cabo às chapas de suporte com o alicate de pressão e deixo-o lá? Da ideia á acção foi um instante, até a reforcei com a aplicação de outro alicate que o nosso skiper tinha na sua bagagem de emergência. Acabada a reparação, passámos á prova real, e… maravilha! tudo funcionava correctamente, ufa! que alivio para todos a bordo.
Em seguida ainda montei uns arames e umas madeiras para travar e limitar a oscilação dos alicates, que acontecia sempre que havia movimento nos cabos para correcção do rumo, ficou óptimo!
Entretanto tinha chegado o quarto do Eduardo G. que ficou com o Rui R., enquanto me fui deitar, embora sem conseguir dormir, pois passei algum tempo a observar o ligeiro movimento de vaivém dos alicates e a pensar que a reparação podia não durar muito. Porque razão ficámos sem leme? Só porque um dos cabos soltou o bucim da cremalheira? Fiquei intrigado! Passado algum tempo novo alarme, estávamos novamente sem Piloto Automático. Fui ver, e o problema estava na roda dentada exterior do motor do PA, que transmite o comando à roda do leme através de uma corrente de bicicleta. Pois é! O escatél tinha-se passado e a roda estava solta em relação ao veio do motor. Dois parafusos, uma lima e um martelo resolveram o problema, finalmente podíamos descansar.
De manhã e após ter conseguido dormir algum tempo, constatamos que a “engenhoca” se tinha aguentado. Depois do reconfortante pequeno-almoço, tentei convencer os meus colegas de viagem a voltar a colocar a cana do leme e a desligar o Piloto Automático. A finalidade era de poder fazer uma pesquisa ao sistema, e em especial ao outro cabo, que era uma suspeita partilhada entre mim e o Eduardo. No entanto a restante tripulação não concordou, tendo em conta que estava tudo a funcionar bem… Ok! Aceitei na condição de se fazer uma escala técnica, no local mais conveniente na Costa de Marrocos.
5º Episódio - Confirmação da suspeita.

Em análise, a nossa suspeita estava fundamentada, o outro cabo estava solto dentro da sua cremalheira devido á porca que o fixa á barra da mesma ter-se desapertado na totalidade estando o cabo de comando do sistema completamente desligado do mesmo. Podemos portanto concluir, que o cabo que se soltou da cremalheira, arrasando a rosca do bucim de ligação, foi originado pelo esforço de estar a suportar sozinho todo o trabalho da condução do leme, visto que o outro cabo estava solto talvez já á algum tempo.
Conclusão: Feitos os ensaios finais, todos concordámos que a roda do leme estava como já á algum tempo não se sentia, sem folgas e assim o PM entrou em merecido descanso e trabalho reduzido.